segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Não concordo.

Não concordo com erros fatais, pormenores decisivos, tudo preto no branco, ou branco no preto, não concordo. Não posso concordar com tudo o que dizes, com tudo o que sonhas, se o sonho te leva só para debaixo da cama. Se ainda por cima aceitas morar no que te é impuro, no que não te toca, no extremo que às vezes sussurra como quem grita "tens de saltar, é a única fuga". Não concordo com caminhos a direito, que os atalhos, vá lá, sabem bem.
Eu sei que não sei bem o que quero dizer, nem o porquê de o dizer, se eu já vi o outro lado. Não sei como te explicar que o negro do vazio às vezes acolhe. Que as lágrimas nem sempre são uma amostra de felicidade ou tristeza desalmada. Que a agonia nem sempre sufoca- porque há sempre o momento depois; esse depois, não sei o que é, mas há-de ser mais qualquer coisa. É esse o caminho, já o disseram muito antes de nós, já o sabiam e já o esqueceram.
Naquele momento, não sabes se estás vivo ou morto, nem pouco te importa. Porque as luzes dizem-te mais do que qualquer palavra pronunciada ou escrita. É importante que se veja que a fala é negligente, mas a escrita vale tanto ou mais do que a vida.
Quando me escreves palavras suicidas, não me magoa. Não me aflige. Nem te consigo com palavras esgotar os alarmes de incêndio. Mas não posso, não devo, não me cabe a mim concordar. Cada momento de noite é só tua. E eu não tenho espaço, não tenho folhas, não tenho língua que não queira dormir.
Pede com muita força e pode ser que eu te arranje alguma erva ou sensação que te faça esquecer.

Sem comentários: