terça-feira, 11 de março de 2008

Aequum est.


Temos um cenário preparado para a cena do desmancho. Temos tiques parvos, neurastenias em mãos, cigarros desnecessários, birrinhas do Vou-te irritar para que me ames e farpas nos dedos mindinhos. Temos muita coisa que não faz falta; ressacamos. Faz-nos comichão a felicidade, disparamos defeitos ao ar e as balas perdem-se sempre nos corpos. Vaiamos actores mal pagos, com o sonho de serem engenheiros. Caraças para todos os gostos, conversas sem nexo que explicam o mundo em que tropeçamos. Tropeçamos em dois amantes que não se amam, nem debaixo de água. (Há cursos no Japão que ensinam a dizer Amo-te e eu nem para Leiria consigo ir). Está tempo de chuva e o breu é imenso.


- O teu coração é um guarda- chuva estilhaçado. Deixa-o aí aos cantos, como as meninas em hora de ponta e de tusa.

- Preferia d(o)á- lo a ti, de bandeja ou o quer que seja.

- Ui, anjo de guerra, tão doce que até enoja. Pôe-no antes ao ataque e torna-te o pior dos chulos, um daqueles beras e vis que oferecem flores no dia do milésimo cliente.

- Eu gosto de flores.

...

- És a minha melhor puta.

- Sim, os meus beijos são só teus.

- Pobre criança. Qualquer dia, ainda me pedes em casamento.


Já dizia o argumentista que chocamos todos uns contra os outros, só para sentir algum tipo de toque. Qualquer coisa assim. Eu concordo, mas às vezes penso, penso só e não digo, porque dizer torna tudo mais definitivo, que chocamos porque queremos clientes. Porque a loja fechada não dá lucro. Porque a vida tem violações, torturas, castrações e demónios muito mais do que quanto baste, que o interior chega a parecer absurdo quando se declara com dor. Se é isto a dor, que venha muita, que venha mais e sempre mais, porque eu quero é sentir-me viva. Sentir. Me. É justo que, se queremos vir ao mundo, não alucinemos em mundos cor-de-rosa. Se os nossos filhos se sairem a ti, juro-te que me suicido.

1 comentário:

Eduardo disse...

oh meu deus, apesar de tudo continuas a surpreender-me...
kiss!!tenho tudo dito