quinta-feira, 22 de maio de 2008

A minha hora do conto (distante)


Querem crescer para lá do outro mundo. Querem cheirar a relva ardente de sabor. Querem saltar pulos de conveniência para serem heróis.
Os putos querem ser os maiores dos mais pequenos, as sensações que quebram uma pedra, querem viver a vida como se fosse algo de maior.
São eles a voz de quem acredita na razão, na inspiração que desacredita, o corte que sangra, o beijo que não ama, o toque que não sente, mas hoje tudo é fácil, porque querem e sabem o que querem, porque o querer é facílimo quando tudo o que queremos é simples. Tocam as flores e elas rejuvenescem em auréolas de fino sem-sabor, porque o material é apenas a mistificação da vontade de chorar.
Anjos de asas quebradas, árvores de ramos caídos, dança sem pés para dançar, pão sem manteiga, azul sem cor, pensamento sem alma. Tudo não passa de uma criação de brincadeira, de gritos rejuvenescedores, de fatias de felicidade.
São eles, os putos, não os que andavam à volta da fogueira, mas o que mostram o que é viver.

Eduardo Coreixo

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