terça-feira, 15 de julho de 2008

O Eco da Moldura


Olá, eu sou o Rodrigo, tenho 32 anos e estou nesta cama indúctil por negligência de correspondência afectiva. Mas adoro médicos, gerações deprimidas e depressivas e novas formas de tomar os comprimidos sem me engasgar ou morrer. Entre Beethoven e Bach encontro-me no maior dilema de escolher a melhor performance dos meus medos e tempestades movediças como areias, areias que se infiltram secretamente, segredos de estado mais ou menos metade meu e meia fantasia desejada, que é bem maior do que a com que o sonho me galanteia.
Amo personagens que encontro nas fotografias desgraçadas e mendigas de um qualquer reconhecimento taciturno e romântico na sua mais bela ignorância. E débil, um aplauso débil como todos os romances que pisam esta terra e a que há-de vir (quando eu tiver 103 anos, se não morrer antes). Artifícios de lusco-fusco para melhor enfrascar a alma numa felicidade de poeta, numa lágrima vocífera vocal, na luz vitralizada de um pintor. No estranho acto de entrelaçar mãos e defeitos como se entrelaçam mães e os seus filhos perfeitos. Os amores, amores perfeitos e murchos e calor mortal que relembra a mortandade que é o parapeito da janela com a falta de serenatas, corações que pulsam não porque sabemos mas porque ouvimos. Madeixas de cabelo guardadas na cabeceira do amado no faz-de-conta de separador do livro das palavras nunca soltas, nunca livres – por isso felizes, sendo estas do contra às outras coisas todas e limitadas do mundo. Página 98, terceiro parágrafo a contar da direita.


Não quero morrer de mãos vazias enquanto souber que tenho ar entre as mãos. Don’t breath, just pray. Já não se pode ser louco nos dias que correm; corre-se o risco vertiginoso da metamorfose do diferente para o igual. O que equivale a uma solução benéfica só nos quadros com números e fórmulas mágicas sem magia, marcadas a giz vermelho como quem nos grita que perdemos a pele e a capacidade. Ou nos diz, de músculos contraídos, expressão nula aniquilada, de mansinho como um conselho de amigo: Vai à merda.


Um dia vou escrever sobre o Gonçalo (e há coisas que não são, definitivamente, para se compreenderem).

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