quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Gafanhoto

Vi um gafanhoto, era gigante, parecia distante
Ele sempre esteve ao pé de mim, eu é que não o tinha visto antes
Fiquei um bocado hesitante. Vou apanhá-lo antes que ele fuja
Fui buscar uma garrafa, por acaso até estava suja

Ele estava livre, ele não notou que eu queria apanhá-lo
Talvez por isso não lutou quando tentei agarrá-lo
Meti-o dentro da garrafa, fechei a tampa e parti
E ele começou a saltar a tentar fugir dali

Fui buscar um alfinete para que ele pudesse respirar
E enquanto furava a garrafa ele não parava de saltar
Tentei furar onde ele não estava com medo de o aleijar
Mas ele procurava o alfinete sem medo de se picar

Já me estava a irritar, comecei a abanar a garrafa
Na tentativa de o acalmar e ele mesmo assim não parava
Não percebi porque lutava, ali ele estava seguro
Mas o animal não parava, sentia que estava em apuros

Então decidi soltá-lo, nunca lhe quis fazer mal
Ele era um animal tão raro, só queria domesticá-lo
Abri a tampa e deixei-o ir em liberdade
E ele saiu da garrafa mas não saiu do meu lado

Depois disto tudo achei estranho não o ter assustado
Ficou parado no mesmo sítio onde o tinha apanhado
Mas eu queria que ele voasse, voltei a ir atrás dele
E ele só fugia a passo, parece que não queria fazê-lo

Estará ele aleijado de tanto salto na garrafa?
Naquele estado em que ele estava até eu mal o agarrava
-Vamos lá Senhor Gafanhoto. Conquista a liberdade
Há bocado estavas preso. Agora foste libertado.

Deixei sair o meu gato que nem sequer reparou nele
Caçou um mais pequeno e começou a comê-lo
Eu fui lá salvar o bicho daquela atrocidade
Tirei dali o meu gato e fui fechá-lo no quarto

O gafanhoto entretanto continuava parado
Continuava distante e continuava ao meu lado
Soltei o gato outra vez mas desta vez agarrado
Meti-o ao pé do gafanhoto e este ficou alarmado

Não fugiu, não se mexeu mas estava defensivo
Era essa a sua táctica na luta para ficar vivo
O meu gato atacou-o e ele tentou fugir
Mas já estava dominado. Não tinha como sair

Fui lá salvá-lo do gato e ele finalmente voou
E eu fiquei arrependido por tudo o que ele passou
Parou numa parede fora do alcance do gato
Entretanto todo este alarido já começava a ser chato

Fui para dentro de casa e fiquei a pensar naquilo
Não chateio mais o gafanhoto, ele assim está tranquilo
Não há moral nesta história, deixo em aberto o fim
Porque de facto o que se passou foi exactamente assim.

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