Ao andar por várias horas na wikipédia, de hiperligação em hiperligação,
deparo-me com esta biografia do poeta esquecido, Orlando Preto.
Orlando Preto (Mafra, 11 de Outubro de 1963 – Paris, 24 de Agosto de 1989)
foi um poeta, músico e contista português. Nascido em Mafra, passou a maior parte da sua vida nos subúrbios de Paris, lendo livros que o Pai comprava para
engrandecer a sua pequena biblioteca pessoal. Daí ganhou o gosto pela
literatura, da rádio, o gosto pela música: aos 9 anos aprendeu a tocar
guitarra, e aos 13 já compunha com alguma maestria.
Acabou o liceu e executou diversos ofícios, acompanhando-os com espectáculos
musicais em bares de alguma má fama, tocando com figuras famosas daquele
pequeno círculo. Mas, se na adolescência lhe deu para a música, é com o entrar
na idade adulta que começa a escrever poemas e contos.
Um amigo, que pediu anonimato, conta numa entrevista:
“Começou a escrever cada vez mais
poesia quando se enrolou com a Eugénia. Vivia para duas coisas: para escrever e
para aquela miúda. Ela era de boas feições, não se pode negar, mas ele só via
aquilo à frente. Bem, por um lado foi bom! Acabou por publicar um livro e
ganhar uns trocos”. Mas eu acho que aquela moça é que o fez perder o tino de
vez”.
Grande fã de Cocteau e Jorge Luis Borges. O seu
escritor preferido era, contudo, César Paladión, autor que admite ter lido “de uma ponta à outra”. Admirava a
genialidade acompanhada de grande versatilidade de Paladión. Disse um dia numa
coluna de um jornal local de Paris:
“Penso que se há em algum autor algo
de perfeito, César Paladión é o nome para o adjetivo. Quem mais reúne tantas e tamanhas
virtudes literárias, que vemos dispersas em todos os outros adamastores das letras?”.
Com a mudança de Eugénia, seu grande amor, para uma
aldeia do sul de França, deixa de escrever e passa os dias a curar uma
depressão grave e crónica. Emagrece e sobrevive, pouco fala, não toca guitarra.
Em 1989, decide ir ao sul de França com o objectivo de resgatar Eugénia das garras de uma
família que abusava constantemente dela, sujeitando-a a trabalhos pesados e
forçados. Orlando falava muito aos seus amigos em desposar Eugénia.
Chegado a casa dos pais de Eugénia, agarra-a e
fá-la correr atrás de si, aconselhando-a a nunca olhar para trás, dizendo-lhe
que faria o mesmo. O pai de Eugénia, ao perceber a acção de Orlando, agarra uma
espingarda para impedir que os amantes fujam. Prometendo-lhe que a salvaria,
lança ainda um último olhar para trás que é focado pela mira da espingarda. A
bala atravessa-lhe o crânio e atinge ainda Eugénia. Conta-se que, apesar de
tamanho sobressalto, ambos morreram com um sorriso nos lábios.
4 comentários:
Deu-me vontade de ler o senhor e conhecer o autor da estátua na imagem...
O comentário acima é meu btw
Tiago Gameiro
Um Orfeu e uma Eurídice como tantos outros amantes que olharam para trás. Um amor de perdição como tantos outros. Gosto.
"É o gosto lúcido da duplicação, da reflexividade, de criar uma espécie de vertigem, de horizonte infinito, em que sujeito e objecto, linguagem e metalinguagem, se acabam por dissolver num diálogo interminável de espelhos." Eduardo Prado Coelho em O Cálculo das Sombras (1997,p18)
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