sábado, 8 de dezembro de 2012

Naufrágio


Não me consigo mexer. Não quero. Não aguento esta dor que dizem que devia ser minha, porque ele longe e no alto, as nuvens. E depois esta gente toda que vem ter comigo como que a dizer-me com os olhos náufragos que o meu barco está partido e com uma qualquer falta de memória do que ser barco significa. Eu, nem marinheira sou. Eu não sei o que sou. Eu nem me consigo mexer.

Levantaram-me hoje. Sozinha não, que não sei fazer nada sozinha. Gostava de lhes poder limpar a certeza que eu nunca mais a mesma. Ouso ler nas entrelinhas que a dor que devia ser minha seria tanta que melhor assim, sem conseguir escrever o passado para dentro. Antes recalque do que lucidez. É isto que ouso ler e ninguém se dá conta que leio. Ele lá longe e alto, nas nuvens. E eu sem conseguir ver para trás porque sem pernas e sem braços utéis que me permitam mexer e ver. E mesmo quando eu peço, porque quero saber o que lá atrás da cama o bicho papão tem para me dizer, nunca é para trás que me viram porque o para trás é sempre uma nova frente, sempre sem respostas, sempre sem me conseguir dizer para que um barco serve, o que ser marinheira significa.



Não me consigo mexer. Melhor assim.

1 comentário:

TheRagnawar disse...

welcome back. Já sentia falta dos teus textos.