terça-feira, 24 de julho de 2007

Conversa de Cabeceira

Ela, deitada. Ele lê a carta em voz alta.

" Nunca amei, para me salvar. Não te segui por saber que as conversas nunca são o que esperamos. Não lutei, não ri, não te senti no final do dia, na minha memória. Mas continuei a viver. Vivi e não amo, mas vivo. Quem ama demais, acaba sempre por enfadar. Constrói filmes sem orçamento e nexo, perde a noção toda da realidade e do que tem à frente. Olha para todos os lados, menos para a frente. A frente dói, mais vale cegar.
Amei-te demais, depois de partires. Seguir-te é que não. Habituei-me ao amor, por si só, ao sentimento auto-suficiente. É assim que te amo, que me casei com o teu olhar e que nunca te trairei, assim como nunca te sentirei a falta."
- Vês? É por esta merda que eu deixei de escrever.
- Que queres dizer? Não compreendo.
- Eu deixei de escrever, para me salvar. Optei também por viver. Os escritores não passam de aleijados sentimentais inconformados.
Cláudia

1 comentário:

Eduardo disse...

A tua maneira de escrever é deliciosa...Continua a escrever porque em ti corre nas veias o talento de uma escritora superior...Ao contrário do que reclamas para mim, não possuo tal coisa.
Beijos sr escritora.