sábado, 24 de novembro de 2007

Tristeza


É melhor matá-la enquanto é tempo, senão qualquer dia é vê-la a rir-se e a dar ordens como se a casa tivesse sido sempre dela. É melhor negar-lhe o pão para a boca ou a àgua para o corpo e atar-lhe todas as réstias de meiguice. Deixá-la aos cantos depois de a espancar com a realidade. Só a realidade. E não a deixar fechar os olhos, por um minuto que seja.
É bom que se transmita a si própria que os abraços estão fora de uso e que as conversas equilibradas fazem parte de um outro passado. Que os risos não lhe pertencem e que ninguém a vai chamar à parte para lhe dizer
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" Tenho um cantinho guardado para ti. Podes chorar aqui que eu não tenho medo. Ao pé de mim tornas-te mais bonita e eu mais bonito do que alguma vez sem ti... Podíamos ver um filme, que me dizes? Aí rebentas tudo na tua personagem preferida e eu faço da personagem que mais te encantar, para te levar para um mundo só nosso, bonito. Com flores? Com flores. Gostas de flores? Amanhã dou-te amores-perfeitos, por volta do meio-dia.
Podemos andar de eléctrico quando quiseres, em silêncio, as palavras que são do vento, deixemo-las para os surdos. Se podemos ver o mar?, aaah, podemos , claro que sim, esse é o espelho para onde iremos quando um de nós se cansar... e dizes que já Estás cansada? Não me deixes, Ainda não viste tudo, ainda podemos andar pela rua e fingir que não nos conhecemos, e recomeçar vezes sem conta novos pormenores que apaixonem, tanto, tanto, que pareça impossível o tempo não ter parado e nós que tenhamos caído na armadilha sarcástica que ele nos dá."
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Não, isto ela não pode sentir, de maneira alguma. Não a deixem fechar os olhos- com um pouco de sorte, ela acaba por nos fazer o serviço e escusamos de sujar as mãos.

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