domingo, 6 de julho de 2008

Passado não conta


Aviso-te pela penúltima vez. Vou deixar de existir para sempre e para Marte.

- Eu não vou chorar.

- Quando sufocares como mais amas, em câmara lenta para atenuar ou desafiar a dor, quando te doer a falta de passado e de rancor, eu não te vou confortar. Quando as prateleiras vazias dos teus livros sem sentido reclamarem pelas tuas mãos e estas ficarem doentes com a falta do que falar ou partir. Por vezes é o vício que sai de nós e o pior vem depois. Depois do depois, depois do para sempre. A tua caligrafia está de luto por fim e enterra-me livre de ser a causa, o efeito, o meio e o fim.

- Despenteia-me só mais uma vez.

- A tua maior loucura foi perderes a tua vida em lembranças enrugadas do que teríamos sido se tivéssemos sido. E dares ouvidos a quem te disse que nós éramos iguais e que só não dava porque nunca dá quando tudo tem tudo para ser perfeito. Vero ou não, não está cá, já não vive, já não há montes nem promessas por detrás deles, tu já não existes. Eu vou deixar de existir. Beija-me a pálpebra e atira-me da janela.


- Dorme bem. Eu nunca mais vou sonhar com rosas nem sorrir a sorrisos bonitos.

2 comentários:

Anónimo disse...

O Passado conta, por vezes mais do que devia. Mas é o Passado que nos faz o Presente, e nesse sentido, acho que teremos sempre alguma coisa a dizer.

Continua a sonhar com rosas, linda. Não podes dizer isso, tu que és florista e as distribuis a cada dia que passa, da forma mais subtil ( e por isso , mais importante) que conheço.

T'adore**********

Eduardo disse...

por vezes o sorrir, nao deixa de mostrar que somos fracos...
O passado faz parte de qualquer um, mas nao podemos deixar de sentir que mesmo que tentemos ser cubos de gelo, seremos sempre hipocritas a sorrir daquilo que se avizinha. é essa a natureza humana...

Grandes beijos