terça-feira, 23 de setembro de 2008

Não sei escrever, mas sou Feliz.



Lembro-me de ti porque és de todos o mais morto e o que menos merece a morte. Continuo a repetir que o mais bizarro no meio deste mundo é a falta de palavras quando já está tudo dito. A falta de toque quando as peles se magoam, se saturam, se tatuam e depois morrem, também elas. Tudo em não- vida- como- a - conhecemos. E eu redigo e sublinho, de todos o mais morto e o que menos merece a morte.


Lembro-me de ti cheio de nevoeiro, lindo, sombrio, com certeza a acabares de te aperceber que chegaras atrasado ao teu próprio funeral. Nós somos cinzas e eu não choro. E foram as pupilas que mudaram de faces, foi tudo o que tocas que me morre nas mãos, foi o ter pena de ti, pela primeira vez, sem o meu colo ou escudo.


E para ti já não existem palavras. A minha missão jaz serena em terra e eu não sei. Que mais dizer quando já está tudo dito. Que mais procurar na cómoda de cheiro a mofo e sabor a tempo, desmaiada e vazia de dor, porque de repente lembro-me que chegou a hora e que chegou o dia , em que chegou o tempo e que já sou feliz.


(Ninguém escreve por escrever. As mãos é que são pequenas, comparadas com a alma).

1 comentário:

Eduardo disse...

se no meio das minhas maos coubesse só metade do teu talento..."from ashes to ashes, from dawn to dawn..."
Se escreves assim só porque te empenhas em escrever, entao continua, porque mesmo com textos assim,tudo fica mais fácil.
Bjs (tnks pela última frase...percebi-te completamente)