sábado, 24 de julho de 2010

Paparazzi

Abro os olhos só para descobrir que somos todos paparazzi uns dos outros e gostamos. Nada de novo aqui, mas também eu quero dar, tanto o meu bitaite, como o meu bitate. Ligo a televisão, e a maior parte dos programas que nos fornecem para assistirmos são reality shows subvertidos à subcategoria de entretenimento. Passamos a vida a ser encharcados com as vidas ricas dos outros e desejá-las para nós. A que preço? Estaremos disposto a pagar por esse dinheiro que queremos tanto comprar? Nos meus momentos de maior fraqueza penso que sim. Inconformismo.

Mas nada disto interessa porque somos maiores paparazzi de vidas semelhantes à nossa. Os reality shows. As redes de internet. Toda a gente quer ser lida, toda a gente quer audiência. Mas toda a gente quer, também, dar audiência e ler o próximo, desde que não seja muito comprido e muito aborrecido. O ser humano precisa de histórias, como ouvi Pedro Paixão afirmar. É verdade, mas têm de ser fáceis. Vamos juntando as peças do twitter ou facebook para criar as nossas próprias interpretações das histórias dos outros. São inspiradoras e fazem-nos sentir bem connosco. E depois há opiniões associadas. Às vezes até podemos aprender, sem dúvida. Mas o que nos importa mesmo, é ver quem matou/beijou/atraiçoou/entristeceu/fodeu quem. Como abutres à procura de carne enfraquecida por algum tipo de emoção, procuramos depois ser insectos e perfurar e chupar tudo quanto pudermos e não pudermos, do interior de cada pessoa que seguimos. Se for a própria felicidade da pessoa, tanto melhor.

E depois há imagens associadas. O sorriso; o importante é mostrar os dentes certos, às pessoas certas. E os benefícios disso, surgem logo a seguir. A cara; é só uma caixinha de magia. Usamos todas as ilusões que aprendermos para mostrarmos algo que não somos, na maior parte das vezes. O corpo; um dia vamos ser todos flácidos ou mortos, portanto fico à vossa espera.

Tenho tido ganas de assassinar esta humanidade em que vivemos. Se eu pudesse...

4 comentários:

Eduardo disse...

Vamos assobiar...Vamos.

Pseudónima disse...

Infelizmente, falsidade é do mais ordinário que há, pelos dois significados que conheço da palavra. Não há novidades.

Gostei muito da crítica. E depois, há que salientar que utilizaste SÓ o nome do meu querido escritor P. Paixão. :D Portanto, sim, gostei muito.

Anónimo disse...

Talvez também seja uma “paparazzi”… mas por captar imagens e palavras sábias dos teus textos, por sonhar e pensar, por esboçar um sorriso ou franzir a testa com eles, e não necessitar de nenhum zoom digital ou ótico para perceber o teu talento e a sorte que eu tenho por te ter a meu lado.

Percebo a tua crítica e até,revolta pela "falta" de entusiasmo das pessoas pelo que é, verdadeiramente, importante e de qualidade.

Tenho muito orgulho em ti. Keep going, please.
Mar

Kamon disse...

<...> PT: Caro leitor, se consegui captar a sua atenção, queria que perdesse um pouco do seu tempo, para que lhe pudesse dizer que este blog vale mesmo a pena ler. <...>Se eu pudesse fazer uma única coisa que fosse,<...>Seria para vos implorar por (merecido) reconhecimento. Seria para implorar que dessem uma chance a quem tem "estórias"<...>

Eduardo Rilhas em Träume

Sim, o mesmo que escreveu este post...