sábado, 17 de novembro de 2007

Serenata (a) II


É no teu sorriso que rasgo mil cores e na tua ausência que escondo e transformo, encontro e perco tudo o que merece ser encontrado ou perdido.
Não sei que te cantar agora que estás tão perto, tão próximo do toque... quando não te via, as palavras tinham a vida que tu não tinhas, e eras mera ilusão presa na minha dança solitária. Não te amava. Agora que te tenho, as palavras são iludidas pela tua imagem e jazem encantadas pela tua beleza intemporal. Tudo o que te diga merece ser calado, porque tudo o que te diga é fraco, encolhido, encardido, amachucado, pontapeado pelo teu enorme jeito de me calar.
Tens o dom, sabias? Talvez não saibas, porque nem tu próprio ainda paraste para pensar, para te pensar. E como eu admiro isso... como eu admiro que tu não saibas o quanto ainda tens para me dar, que tu não lembres o nosso encontro por detrás das luzes quebradas e dos espelhos sem reflexo. Meu belo Narciso, ainda bem que ainda não encontraste o teu lago...
São nas tuas mãos que os calos ganham adjectivos românticos, que as rugas não passam de uma alegria imensa por viveres e que os sinais não são marcas malignas, mas estrelas pousadas e perdidas, de livre vontade.
Deixa-me emudecer-te também. Baloiçar-te em poemas de amor. E as serenatas, deixemo-las para depois (despedidas e despidas de um amor que ficou por escrever).
Cláudia

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