domingo, 20 de janeiro de 2008

En Plein- Air

Acho que nunca mais vou conseguir escrever na vida. Bem. Falando a sério, era a doença que me empurrava ou puxava ( desatino sem defeito mas já feitio) a caneta para o término das mãos e vomitava tudo por mim. Sinto-me uma bulímica frustrada, uma curada terminal sem olhos nem gritos.


Nunca mais vou conseguir escrever. Algo de jeito, que valha a pena ser escrito, como por exemplo, mataste-me a corda presa no candelabro que agora se regojiza olhando-me mesquinha e perversa, pérfida na sua alegria de não ter mais uso que não o da decoração deslocada ou partida, um mero erro de percurso ou de óptica. Faça favor de passar, senhor - sabe- tudo que eu não sei nada e as vergonhas passam -me por este frio feio e sujo que não me deixa escrever. Como se não bastasse.


Sinto a roxo, mas convém que se saiba que o médico ontem quase me diagnosticou daltonismo, até se perceber que também ele confundia as cores e que eu portanto estava entre o suor do rosa e do azul. Roxo, como eu dizia. Parabéns pela perspicácia.


Sinto a roxo, porque a dor já passou. Sinto a roxo porque preciso de escrever para me sentir com pulsação e as minhas unhas não se cansam de me dançarem - cabras de cabaret - usos fúteis e alérgicos a qualquer tipo de criação. Sinto a roxo porque já não sei sentir e o roxo fica sempre bem. Futilices, morte aos mestres.

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