terça-feira, 25 de março de 2008

Livro de Reclamações



- Não sou ninguém.
- Gostas da parede? Vai lá contra ela e conta-me a sensação.
- Pára de ser assim. Sinto-me tão mal quando não posso fazer as coisas que mais gosto.
- Que são?
- Cheirar-te de manhã, vinda directa da terra dos sonhos e da água do chuveiro. Apertar-te que quase te esgane a vontade de ser mais e melhor. Saborear cada riso teu - que o nervoso é o meu predilecto- e trabalhar no canil mais perto da tua casa, para reparares da tua janela eh lá que ele também tem coração! e que os cães são amores que nos unem pelas estradas perdidas (uma espécie de serenata sem noção alguma do ritmo). Mirar o véu da montra, imaginar os convites do fel, contar os trocos todos e depois sorrir muito por saber que nem nunca pararás numa loja como esta, porque tens alergia a corações dengosos.
- E também porque nunca entram em saldos.
- Exacto. Também gostaria de um dia aproveitar a rua ventosa para atar fogo aos meus medos... E tu, já sabes o que queres?

- O que eu quero? Menos dores de cabeça, alguém que goste de ser alguém e que me queira como boa companhia.
- Sabes que mais? No meu sonho eras tão mais e melhor.
- Pede o Livro de Reclamações.
- Só se depois me beijares e me prometeres alguma coisa em que eu acredite.

1 comentário:

Eduardo disse...

que dor esta hein?
acho que todos mereceriamos ter um livro de reclamaçoes, para podermos escrever e analisar e processar e desvendar e criticar e...enfim, pouparia um monte de trabalho.
Once again, me liked :)