sábado, 15 de março de 2008

Untitled





Foda-se, eu não deveria nunca ter pago por tu não acreditares em Deus. À falta de cinzas, arde-te todo que eu prometo que desta vez aplaudo no final do espectáculo.


Incrível a quantidade de fantasmas que nos moram no roupeiro ou na caixa de e-mails. Incríveis e não tão incríveis assim, as vezes que esbarramos neles e procuramos desculpas e elas não lá estão, um qualquer aviso de férias, Por motivos de força maior, não nos encontramos disponíveis. Tente mais tarde, E não há forças maiores que expliquem.



Eu queria voltar às ruas de eu e tu e mais ninguém no mundo, aos palcos improvisados, às coreografias circenses, à estrela que ia ser minha, Vénus ou Marte, conforme os sexos; às danças em que tu eras eu e eu não existia; aos ciúmes e cubos de gelo, para atenuar a falta de lucidez; aos relógios sem pilha e à comida indiana com sabor a mar; aos terraços com pombas brancas, risos fracos porque tínhamos medo; praias desertas e alguém com sotaque do Norte, a fazer-nos as delícias da noite; pessoas que pensamos perdidas e se encontram e se perdem, mas ficamos felizes; banheiras encharcadas de suor, risos que acordavam as testemunhas do que não foi só sonho; varandas nossas como amantes acampados, corredores com mendigos que faziam de padres e nos davam livre-passe para as núpcias; eu a falar, mas a querer mais que nunca, ouvir; à igreja que me puxou por um déjà - vu cinematográfico e acabou por me fazer chorar esta noite; tu a pedires-me, já mais tarde, que te ajudasse a acreditar em Deus.



Eu queria apagar. O salão de jogos com dois cadáveres descobertos, sem saberem bem se parar o tempo ou morrerem de vez, para dar vez aos vivos. Posição inerte e calada, com terror das palavras, porque eu olho para ti e amanhã a esta hora, somos sombras disto, um postal bonito para os turistas. O ouvir a mesma música com que tudo começou e chorar por motivos diferentes, desta vez. Os nomes são uma coisa que não se deveria nunca repetir na nossa vida; chega sempre um momento que nem nós já sabemos a quem nos estamos a referir. Chorar por motivos diferentes desta vez, apesar do mesmo nome. A viagem de volta, a volta, escadas imortais. "Foda-se, voltou, Quem? A tal."

Lembras-te de eu ter alucinado naquela manhã, noite, semana? Hoje voltei e não me arrependo, nunca, nunca nos arrependemos, pelo menos isso. Mas se há toque que odeio é o da realidade. Queria um sonho menos cruel, onde por momentos tu fosses eu e eu existisse. Onde parasse de mentir, tu voltasses a dizer-me quantas coisas odeias em mim e eu tivesse a palavra amor quase, quase a expelir-se da minha boca.



Eu paguei por não acreditares em Deus e só hoje me dou conta que nunca te perdoei por isso, (trabalho para férias, ler a Bíblia uma única santa vez). Mais um viajante que continua tão perto - vem ter comigo - e eu não vou. Às páginas tantas, o mundo todo é um eterno jogo do telefone estragado.


Não te dês tanta importância. Clap Clap.

2 comentários:

Eduardo disse...

consegues ainda escrever melhor? fabuloso..."Às páginas tantas, o mundo todo é um eterno jogo do telefone estragado".Brutalissimo

Ciocarlia disse...

Pois, eu não posso concordar mais com tudo o que é escrito aqui sobre ti. Sobre o que escreves. Sobre a força brutal que transmites. Continuo sem saber o que dizer... Manejas muito bem as palavras e escreves sobre coisas que a mim me dizem muito.

(o desencontro de duas almas é mesmo uma coisa triste.)

Quero o privilegio de poder continuar a ler-te!!
Beijo. Obrigada.