domingo, 6 de abril de 2008

Desbarato

Chama-me fútil, mas a vida tem de ser bonita, sob pena que não se olhe duas vezes para ela se faltar a este cânone.

Chama-me egoísta, egocêntrica - que eu só tenho olhos em mim e em mim - mas eu só posso querer os sofrimentos todos meus, os teus e os meus, todos - em mim e em mim.

Chama-me mentirosa, que faltei quando te quis presente, eu confesso; toda a peça foi caluniada. Como não, não sendo eu Calipso?

Chama-me alucinada, mas o mundo senão alucina não deve nem merece ver mais sol ou lua a nascer. Pena de morte, para já, para ontem.

Chama-me meretriz em prestações, porque eu sei, eu sei que dou partes de mim ao desbarato e peço muito em troca (dei as mãos ao tempo, as pernas a Deus, o ventre ao talento. Nunca beijei nenhum destes, por respeito à profissão e às contas do final do mês). Mas peço muito.

Chama-me ladra, que roubei toda a pureza que era eu e fui macabra. Mesmo assassina podereis chamar-me.

Chama-me fútil, mas não te atrevas a pisar este chão sem uma vénia à vida ( se bonita, sem sofrimentos, sem prisões, mundos como ontem, tempo, Deus e talento sem inocência alguma, no seu significado erudito). Faz o que quiseres, mas agradece no fim; porque os agradecimentos também se lêem e eu só sou isto que sou porque peço muito.



(Até hoje, não me arrependo). Obrigada.

1 comentário:

Eduardo disse...

Que coisa fantástica.