terça-feira, 6 de maio de 2008

Respirar fundo


Mudam-se os tempos, mudam-se as ventanias
Mudam-se as vontades, mudam-se os objectivos.
Nas curvas desta vida, como alguém o disse,
Ficamos com cabelos brancos de tanto esperar que aconteça aquilo
Porque mudam-se os momentos, mudam-se os mundos
Mudam-se as fotografias, mudam-se as pessoas.
Neste quadro que pintei, não vejo as manchas que planeava
Vejo a euforia de traços direitos, riscados a rigor,
Alternando com o branco da tela, aquele que não está pintado
Assim que se acabou a inspiração,
Naquela hora em que resolvi parar de sonhar, ainda ontem o foi.
Não choro, porque serei cobarde ao abandonar a seriedade,
Mas desejava saber o que fazer quando se acaba a ilusão,
E quando começa a pertinência de acreditar no real
Porque, eu, não, quero, ser, eu,
Quero, ser, a, minha, triste, imagem (penso a soluçar).
Estrada longa que tenho na palma do dedo,
Enforcada por este anel que uso com todo o orgulho
Mostra que a vida não passa de um túnel pouco iluminado,
Uma imagem fotográfica esbatida pelo tempo
Que a memória teima em não clarear aquando da sua passagem.
Sou morto inspirador, poeta de alma cara,
Arma de fogo entupida, classificação quantitativa
Folha sem ramo, relva sem verde
Amor sem desespero, escrita sem tinta.
Inspiro a vontade, não a ausência.

Eduardo Coreixo

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu,quero,que,saibas,que,para mim,este,é,dos teus,melhores feitos.

"Amor sem desespero, escrita sem tinta.
Inspiro a vontade, não a ausência."

Podia-se resumir tudo a isto. Está lindo.