quarta-feira, 18 de junho de 2008

Press the Button / Shoot me


Amo-te. Sei que é inoportuno e desleal o verbo dizer que escreve e não diz nada - Amo-te sem mais nem menos como se fosse uma medida justa, nem comos nem porquês, sem ondes nem quandos, que ao menos quando há-de a gente saber quando ama ou deixa de amar. Era pior se fosse na caixa do supermercado ou num funeral passado, mas mesmo assim eu sei que faz comichão onde dizem que dói mais.
Amo-te baixinho porque alto ainda alguém nos ouve e nos prende, que o tempo da ditadura não vai sem levar alguém com ele e assim baixinho parece-me bem, voz rasa e muda como um segredo que não se consegue calar muito tempo, nem que se conte só às paredes, porque estas, como toda a gente sabe, também têm ouvidos. Cala-te e ouve, porque é de amor que falo (é o lhes digo em noites de lua cheia).
Amo-te pela ruga que tens na fronte e ainda agora te disse porque te amo e já não me lembro - Amo-te. Porque é proibido , proibido é que sabe bem, pular a cerca com a porta vizinha aberta é, no mínimo , estúpido.
Amo-te onde não queres ver, como cego perfeito que vestes para que os teus feitos pareçam maiores e te nomeiem qualquer dia pelo dom do gigantismo. Pela falta de formas, linhas e cores que não o breu mais breu igual a qualquer coisa que insistes - não quero ver, não ver. Amo-te. Como se te dissesse bom dia, como se fosse bom dia que dissesse em vez de acordar sempre mais tarde do que o dia e me repetisse , Boa tarde. Tudo bem? Amo-te, isto cala qualquer um perceptível ao lado esquerdo da nossa carne, parece que hoje vai - Amo-te.
Pela boca morre o peixe , quem desdenha quer comprar e etecetera.com , que o espaço acaba aqui - se tudo é relativo, fico-me no ponto final que se segue à enxorrada de emoções a morder o lábio inferior. Agora só para o ano.

Amo-te
.
P.S. - Preciso de aspirinas e de pilhas para o comando de televisão. E tinha qualquer coisa para dizer que entretanto me esqueci. Press the button.

2 comentários:

Shadow disse...

Sabes que um novo ano é como o natal, pode ser quando as pessoas sentirem a necessidade de avançar ou regredir no tempo e criar do caos estrelas.
Não irei comentar mais, apenas vou dizer que as borboletas na barriga começam a ser um síntoma deste ano e que adorei o teu texto.
Beijinhos grandes*****

Ciocarlia disse...

Tenho dificuldade em comentar os teus textos porque gosto sempre de ver naquilo em que transformas os teus sentimentos.

Amei o texto. Adorei a sensibilidade. Gostei do "amo-te onde não queres ver,como cego perfeito que vestes para que os teus feitos pareçam maiores e te nomeiem qualquer dia pelo dom do gigantismo".

Beijo.